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O discurso de abertura. Não deixem de ler!


À entrada do Ribatejo encontramos o concelho de Vila Franca de Xira, onde nos encontramos reunidos. Bem distante, na zona norte da Dinamarca, encontra-se a cidade de Aalborg. Estes dois locais tem em comum um documento, chamado Carta de Aalborg, que várias cidades europeias assinaram e ao qual aderiram no decorrer do ano de 1994. A 11 de Maio de 2005, Vila Franca de Xira tornou-se signatária do mesmo documento, comprometendo-se a aplicar os princípios que regem a Carta das Cidades Europeias para a Sustentabilidade.
Este documento apresenta directrizes a nível ambiental, considerando que a promoção da qualidade ambiental é um garante, ou pelo menos uma via para atingir uma maior qualidade de vida para as populações. O estilo de vida marcadamente urbano que se vive em todos os grandes espaços urbanos da Europa é responsável pelos danos ambientais crescentes que pesam sobre o planeta. A necessidade de as populações se deslocarem muitos quilómetros para um local de trabalho, tendo de regressar ao fim do dia, apresenta-se como uma causa de muitos dos problemas que caracterizam a vida urbana moderna: poluição atmosférica, sonora, complicações do sistema nervoso e perda de tempo diário que, abertamente, não está a ser aproveitado pelas populações para o seu bem-estar.
As cidades signatárias da Carta de Aalborg comprometeram-se a manter e preservar o capital natural ainda existente no seu território, promover o seu crescimento e aumentar o rendimento final dos produtos, por exemplo com a construção de edifícios energicamente eficientes ou transportes públicos ecológicos. Uma cidade que assine a Carta de Aalborg está a comprometer-se a enveredar por políticas que fomentem a justiça social, as economias sustentáveis e a sustentabilidade ambiental, sendo que estes três aspectos se associam em variados elos. Para uma cidade sustentável, tal como escrito na Carta, é indispensável a redução da mobilidade forçada em fluxos pendulares e do uso desnecessário de veículos motorizados, sendo dada prioridade aos transportes públicos e, se possível, ecológicos.
A Carta de Aalborg refere ainda que os adultos de hoje devem reunir esforços para que não transmitam para as gerações futuras os seus problemas com o ambiente ou qualidade de vida. Cinco anos após a adesão de Vila Franca de Xira e do seu concelho a este compromisso de nível europeu, que mudanças na mobilidade, na conservação da natureza, na redução de emissões, podemos encontrar no nosso concelho? Onde está a tão prometida diversificação de funções e de actividades existentes no concelho, e a criação de emprego dentro das fronteiras do município? Cada vez mais as cidades de Alverca e Póvoa de Santa Iria constituem grandes dormitórios que abastecem, dia após dia, a cidade de Lisboa de trabalhadores. A cidade de Vila Franca de Xira assiste, mês após mês, à morte do comércio local e ao esvaziamento de funções do centro da cidade. E nós, jovens deste concelho, é esta situação que vamos herdar.
Daqui a dez anos, todos nós teremos completado o nível de ensino que desejamos, e estaremos na altura de constituir família, e construir uma vida estável, com emprego assegurado. E Vila Franca de Xira, para um número crescente de jovens, não responde a todas essas expectativas dos mais novos: falta a este concelho empregos especializados, infraestruturas de lazer que outrora tivemos, transportes mais frequentes e mais eficientes do ponto de vista ambiental. A uma cidade de vinte mil habitantes, como é a Póvoa de Santa Iria, falta uma escola secundária, e todos os seus jovens precisam de se deslocar para completar aquilo que é hoje o ensino obrigatório. Um espaço urbano como Vialonga, com cerca de 13 mil habitantes, não possui nenhum sistema de transportes públicos que o ligue a Lisboa, onde uma grande parte da população precisa de trabalhar. Em todo o concelho os centros de saúde e o hospital distrital não possuem as condições físicas e humanas para responder às necessidades da população em crescimento. Em toda a zona norte da Área Metropolitana de Lisboa, Vila Franca de Xira é o único município que não possui nenhuma escola ou instituto de ensino superior. O Museu do Ar, que durante tantos anos distinguiu o nosso concelho, é já assunto de negociações e será transferido para o concelho de Sintra. O complexo residencial da Malva Rosa, em Alverca, para onde foram prometidos hotel e clínica, revelou-se mais um projecto megalómano de cariz meramente residencial. Para alguém se deslocar entre Alverca ou Póvoa e a capital do concelho, o único meio de transporte verdadeiramente amigo do ambiente é o comboio, que em certos dias só circula de hora a hora.
Até quando nós, jovens, teremos gosto em viver num concelho com estas carências, sem sequer vermos algum esforço no incremento da qualidade de vida que vemos existir em concelhos tão próximos?
Este debate que aqui organizámos, tem o intuito de despertar os jovens do concelho para os direitos que possuem, e a distância a que eles estão da realidade efectiva em que todos residimos. O que falta a este concelho para ser atractivo aos mais jovens? O que podemos nós esperar deste concelho? Qual é o nosso papel, como geração seguinte, nesta cidade e neste nosso espaço? Que reivindicações temos e que voz queremos fazer ouvir?

João Fernandes


 
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